Interceptações telefônicas realizadas pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) indicam que o Primeiro Comando da Capital (PCC) está recrutando pescadores para transportar cocaína até navios em alto-mar. Operando a partir de São Paulo, os líderes da facção instruem seus representantes em Fortaleza a contratar pescadores para realizar o transporte da droga, utilizando barcos menores e menos chamativos para despistar a vigilância das autoridades portuárias.

Esses pescadores se aproximam dos navios cargueiros e entregam os pacotes de cocaína a mergulhadores da facção, que ficam responsáveis por fixar a droga nos cascos das embarcações. "Eles pegam a droga em hotéis na Beira Mar e transportam até os navios", explicou um promotor do Gaeco, sob condição de anonimato. Essa técnica foi flagrada pelo MPCE, revelando um novo método de operação do PCC.

O Porto de Mucuripe, em Fortaleza, tem se mostrado um ponto estratégico para o PCC, servindo como uma alternativa para o envio de cocaína à Europa e África. Essa rota marítima é uma das principais fontes de renda da facção, gerando bilhões de reais anualmente, conforme dados do Ministério Público de São Paulo (MPSP).

Fortaleza se tornou uma das principais bases de operação do PCC no Nordeste, devido à sua localização geográfica e ao crescimento imobiliário na região, que facilita tanto o tráfico internacional de drogas quanto a lavagem de dinheiro. "Para o PCC, o Ceará é estrategicamente importante para o tráfico de drogas para a Europa e África", destacou o promotor.

O tráfico internacional operado através do porto do Ceará, juntamente com o porto do Rio de Janeiro, é extremamente lucrativo, rendendo ao PCC pelo menos R$ 4 bilhões por ano.

Prisão de Mergulhador do PCC

Em fevereiro deste ano, câmeras de monitoramento registraram dois homens desembarcando de um carro no bairro Praia do Futuro, em Fortaleza, e caminhando em direção à praia. Policiais militares abordaram um dos suspeitos, que estava com cilindros de mergulho, cordas, varas de pescar, uma máscara de mergulho, nadadeiras, um celular e um carro. O homem, de 25 anos e originário de São Paulo, foi preso.

Na residência do suspeito, localizada em Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza, a polícia encontrou uma mulher de 47 anos, também de São Paulo, guardando 410 quilos de cocaína. Com a ajuda de cães farejadores, a droga foi apreendida, junto com mais cilindros de mergulho, cadernos de anotações, cartões de crédito, um carro e um bote com motor.

Uso de Pesqueiros

Além dos pequenos barcos, a Polícia Federal (PF) descobriu, em 2022, o uso de pesqueiros maiores pelo PCC para transportar grandes quantidades de cocaína em alto-mar. Em uma operação em agosto, a PF apreendeu 1,2 tonelada da droga em um pesqueiro que navegava em águas internacionais. Seis pessoas foram presas, e a carga estava escondida sob toneladas de gelo no porão do navio. A investigação revelou que a droga tinha como destino a Europa.

A operação, realizada em cooperação com agências antidrogas dos Estados Unidos (DEA) e Inglaterra (NCA), resultou na prisão do capitão e de cinco tripulantes por tráfico internacional de drogas, associação para o tráfico e participação em organização criminosa.

Fonte: Metrópoles