Desde a última sexta-feira (12), quando foi anunciado que Inácio de Barros Melo Neto, empresário de Olinda, Pernambuco, adquiriu 12,52% das ações da Americanas, seu telefone não parou de receber mensagens de amigos e conhecidos. Aos 44 anos, pai de quatro filhos, Inácio agora é o quarto maior acionista da companhia, logo após Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, que detêm juntos 30,12% do capital social da varejista.

A Americanas está enfrentando a maior crise de sua história após a revelação de uma fraude contábil de mais de R$ 25 bilhões no início do ano passado. Inácio, oriundo de uma família investidora na área da educação em Pernambuco e ex-vereador do Recife, alcançou a marca de 113 milhões de ações na sexta-feira passada. Este feito é resultado de um investimento de cerca de R$ 50 milhões iniciado no início do ano passado.

“Comecei a investir na Bolsa em 2020. No ano passado, a queda acentuada no preço das ações da Americanas me chamou a atenção. Estudei a situação e os controladores da empresa. Estamos falando dos homens mais ricos do país, que assinaram um termo comprometendo-se a não sair da empresa por três anos e firmaram um acordo com os bancos. A Americanas identificou um erro, que, se comparado ao patrimônio dos controladores, é irrisório. Existem coisas que ocorrem em uma empresa que são independentes do dono”, explicou Inácio ao Globo.

Ao justificar seu investimento, Inácio destacou que a gestão anterior foi afastada, a empresa está sendo auditada e o processo de recuperação judicial foi aprovado pela Justiça. “A Americanas vai se reerguer. Essa é minha leitura. Quando vi o primeiro aporte dos controladores, comecei a investir mais. Pensei também no agrupamento de ações durante o aumento de capital e percebi que precisava ter pelo menos um milhão de ações para não ficar de fora, então aumentei minha participação.”

Inácio recorda uma entrevista que leu em 2020 de Jorge Paulo Lemann: “Ele disse que momentos adversos são oportunidades de investimento. Isso me deu confiança, embora eu não o conheça pessoalmente.”

Fundador da Faculdade de Medicina de Olinda (FMO) em 2015, Inácio revelou que já notificou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de que não deseja ser controlador da Americanas. “Estou apostando nos controladores atuais. Preciso focar nos meus negócios. Tenho comprado ações em silêncio há mais de um ano. Muitos amigos me perguntam se sou eu mesmo, mas ainda não respondi. Quero ganhar capital com o investimento, mas não tenho pressa. Eu acredito.”

Além de administrar a FMO, Inácio comanda o Instituto Maria, que atende crianças com Síndrome de Down, e o Colégio Ecolar, voltado para a educação infantil e ensino fundamental 1, ambos em Olinda. “Somos a terceira geração de educadores. O Colégio Ecolar foi inaugurado uma semana antes da pandemia com 16 professores. Hoje, temos quase 100 profissionais e esperamos alcançar 200 alunos. É um investimento necessário para conquistar as famílias.”

Inácio também é proprietário de uma pequena construtora que está concluindo a construção de 32 apartamentos. “Ainda não começamos a vendê-los. Como minha esposa diz, Olinda é um país para mim,” concluiu o empresário, destacando seu compromisso com a educação e o desenvolvimento da região.

Fonte: Folha de Pernambuco