Morre J. Borges, Mestre da Xilogravura e Símbolo da Cultura Nordestina
Artista pernambucano de 88 anos, conhecido por popularizar a literatura de cordel e a xilogravura, faleceu em Bezerros devido a uma parada cardíaca
- Categoria: Pernambuco
- Publicação: 26/07/2024 10:58
- Autor: Laís Nascimento
J. Borges, renomado artista pernambucano, faleceu na manhã desta sexta-feira (26/7), aos 88 anos. O xilogravador estava em tratamento de uma infecção na perna em sua residência, localizada ao lado do Memorial Jota Borges, em Bezerros. A causa da morte foi uma parada cardíaca, e seu corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) de Caruaru, conforme confirmado por sua família.
Um Ícone da Cultura Nordestina
José Francisco Borges, conhecido artisticamente como J. Borges, foi uma figura central na arte pernambucana e brasileira. Natural de Bezerros, no Agreste de Pernambuco, ele se destacou como xilogravador, poeta e cordelista, capturando a essência da cultura nordestina em suas obras.
J. Borges teve um papel fundamental na popularização da literatura de cordel no Nordeste, abordando temas como folguedos populares, religiosidade, folclore, cangaço e a vida rural. Suas criações foram expostas em todo o Brasil e em mais de 20 países, incluindo Cuba, Japão, Estados Unidos e Venezuela.
Reconhecimento e Premiações
O artista recebeu diversas honrarias ao longo de sua carreira, entre elas o Prêmio UNESCO na categoria Ação Educativa/Cultural, a Medalha de Honra ao Mérito do Ministério da Cultura, e foi escolhido em 2002 para ilustrar o calendário anual das Nações Unidas. Em 2005, J. Borges foi reconhecido como Patrimônio Vivo de Pernambuco. Em 2006, o jornal New York Times o comparou a Pablo Picasso, chamando-o de "gênio da cultura popular".
Trajetória de Vida e Arte
Nascido em 20 de dezembro de 1935, no Sítio Piroca, Bezerros, J. Borges era filho de agricultores e exerceu várias atividades manuais antes de se tornar artista, como a fabricação de cestas de cipó e brinquedos de madeira, carpintaria, olearia e marcenaria.
Em 1956, começou a vender folhetos de cordel em feiras de Pernambuco, Paraíba e Ceará, e também no Mercado de São José, em Recife. Em 1964, escreveu seu primeiro folheto de cordel, "O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina", ilustrado pelo mestre Dila, de Caruaru. No ano seguinte, incentivado pelo amigo cordelista Olegário Fernandes, J. Borges começou a criar as capas dos seus próprios folhetos e produziu "O verdadeiro aviso de Frei Damião". Sua técnica em xilogravura ganhou destaque nos anos 1970 e 1980, quando seu trabalho começou a ser premiado.
Legado Artístico
J. Borges era um ícone da cultura popular, conhecido por talhar em madeira o imaginário nordestino, o cenário rural e a vida do sertanejo. Sua poesia dava ritmo às histórias cotidianas, e suas xilogravuras foram exibidas em prestigiados museus e instituições ao redor do mundo, incluindo o Louvre (França), o Museu de Arte Popular do Novo México (EUA), o Museu de Arte Moderna de Nova York (EUA) e a Biblioteca do Congresso Norte-Americano (EUA), considerada a maior do mundo.
A morte de J. Borges representa uma perda significativa para a arte e a cultura brasileira, mas seu legado continuará vivo através de suas obras e da influência que exerceu sobre a literatura de cordel e a xilogravura.
Fonte: JC Online