Dados recentes do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) mostram um preocupante cenário de tráfico humano no Brasil, com a maioria das vítimas sendo homens e pessoas negras. Este levantamento, que abrange o período entre 2021 e 2023, revela que mais de 80% dos casos de tráfico humano no país estão relacionados ao trabalho escravo, que majoritariamente afeta homens.

Perfil das Vítimas

De acordo com os boletins do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), 8.415 pessoas foram resgatadas em condições análogas à escravidão durante o período analisado. Destas, 80% eram negras (pretas e pardas), 18% brancas e 2% indígenas. A grande maioria, 84%, eram homens.

Formas de Exploração

O Brasil reconhece juridicamente cinco formas de exploração vinculadas ao tráfico de pessoas: remoção de órgãos, submissão a trabalho escravo, qualquer tipo de servidão, adoção ilegal e exploração sexual. Os dados indicam que a principal finalidade do tráfico de pessoas no Brasil é a exploração do trabalho, seguida pela exploração sexual.

Estatísticas e Desafios

Os dados de 2021 a 2023 corroboram com os números dos últimos dez anos, reafirmando a exploração laboral como a principal modalidade de tráfico identificada no país. Especificamente, 53% dos casos foram de trabalho escravo, 27% de exploração sexual, 9% de adoção ilegal, 8% de servidão e 3% de remoção de órgãos.

Invisibilidade dos Indígenas

O relatório do MJSP destaca a ausência de dados específicos sobre a população indígena, sugerindo que a falta de registros não indica a inexistência do problema, mas sim uma invisibilidade dessas vítimas. "Há um desafio urgente no Mato Grosso do Sul, especialmente com o povo Guarani-Kaiowá, que enfrenta condições extremas de exploração e subjugação", alerta o documento.

Ações da Polícia Federal

Nos primeiros sete meses de 2023, a Polícia Federal resgatou 81 pessoas vítimas de tráfico humano, superando os números anuais dos últimos três anos. Desde 2021, a PF instaurou 325 inquéritos relacionados ao tráfico humano, identificando mais de 120 responsáveis pelo crime, muitos deles parte de organizações criminosas transnacionais.

A investigação da PF revela um padrão recorrente de atração das vítimas através de falsas promessas de melhorias de vida e oportunidades de trabalho no exterior. As vítimas frequentemente têm seus documentos confiscados e são forçadas a trabalhar em condições degradantes, muitas vezes sendo exploradas sexualmente ou tendo seus órgãos removidos para o mercado negro.

Conclusão

Os dados do MJSP e da PF destacam a gravidade do tráfico humano no Brasil e a necessidade urgente de políticas e ações mais eficazes para combater este crime. A visibilidade e a proteção das populações mais vulneráveis, incluindo indígenas, são cruciais para enfrentar este desafio e garantir a dignidade e a liberdade de todas as vítimas.

Fonte: Correio Braziliense