Notícias

Barqueiros do Capibaribe: Guardiões da História e Cultura do Recife

Profissionais trocam a vida urbana por passeios turísticos, revelando segredos e histórias do Recife através das águas
  • Categoria: Pernambuco
  • Publicação: 19/08/2024 08:23
  • Autor: Adelmo Lucena

O Rio Capibaribe, com seus 248 quilômetros de extensão, é muito mais que uma fonte de renda para os barqueiros da Região Metropolitana do Recife; ele é um verdadeiro museu a céu aberto, onde a história e a cultura da capital pernambucana são reveladas em detalhes que vão além dos livros. Esses barqueiros, muitos dos quais deixaram empregos convencionais nos centros urbanos, encontraram nas águas do Capibaribe não só uma nova profissão, mas uma forma de vida dedicada ao turismo fluvial.

Marcelo Xavier, de 58 anos, é um desses barqueiros. Morador de Olinda, ele decidiu, há três anos, trocar a vida agitada da cidade pelo sossego das águas do Capibaribe. Oferecendo passeios que partem do pier do Parque das Graças, na Zona Norte do Recife, Marcelo conduz os turistas por roteiros que incluem a Rua da Aurora, Joana Bezerra e o Bairro do Recife. Durante o percurso, Marcelo não se limita a guiar o barco, mas compartilha uma verdadeira aula de história, descrevendo a fauna local e detalhando marcos culturais e históricos da cidade.

"Eu falo sobre os animais que vivem perto dos rios, como as 47 espécies de pássaros e sete espécies de mamíferos. Também mostro um bonsai no viaduto de Joana Bezerra e falo sobre a comunidade dos Coelhos. Conto histórias como a da Casa da Cultura, que já foi um presídio, e sobre a Rua da Aurora, o Cais Estelita, e o Palácio do Campo das Princesas," revela Marcelo, destacando a importância de passar adiante o conhecimento que adquiriu ao longo dos anos.

Davi Vicente, de 62 anos, também morador de Olinda, compartilha uma trajetória semelhante. Deixando para trás a promessa feita ao pai de nunca trabalhar com fogo ou na água, ele se rendeu à paixão pelos rios do Recife e comprou dois barcos para mostrar as belezas naturais da capital. "Trabalhei em um condomínio, e quando fiquei desempregado, decidi que teria um barco. Hoje, ofereço passeios turísticos e meu barco é um espaço de lazer," conta Davi, que oferece serviços personalizados, como festas de aniversário e despedidas de solteiro a bordo.

O Marco Zero, um dos principais pontos de embarque do Recife, também é palco para esses passeios históricos. Ezequias Firmino, de 50 anos, morador do Cordeiro, trabalha há mais de 20 anos como barqueiro, fazendo travessias diárias para o Parque das Esculturas Francisco Brennand. Ezequias, que aprendeu sobre a história do Recife conversando com professores durante seu tempo como funcionário de uma escola, agora transmite esse conhecimento aos turistas que atende. "Não dá para fazer o passeio em silêncio, as pessoas querem aprender sobre a cidade," afirma.

Esses barqueiros, com suas histórias e dedicação, transformam cada passeio no Capibaribe em uma viagem pelo tempo, onde a cultura e a história do Recife ganham vida, sendo transmitidas com uma paixão que apenas aqueles que vivem e amam essas águas podem proporcionar.

Fonte: Diário de Pernambuco