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Hezbollah e Israel em Novo Confronto: Escalada ou Passo para a Paz?

Ataques mútuos reacendem tensões, mas ambas as partes parecem evitar uma guerra total no Oriente Médio.
  • Categoria: Internacional
  • Publicação: 27/08/2024 09:11
  • Autor: Carine Torbey - Correspondente da BBC em Beirute

O recente confronto entre o Hezbollah e Israel, marcado por ataques e retaliações no último domingo, trouxe à tona a frágil situação de segurança na região, reacendendo temores de uma possível guerra em larga escala. O estopim para a troca de ataques foi o assassinato do principal comandante do Hezbollah, Fouad Shukr, em um ataque israelense, ao qual o grupo libanês respondeu com o disparo de centenas de mísseis e drones contra Israel.

Em meio a uma guerra de narrativas, a emissora Al-Manar, controlada pelo Hezbollah, declarou que a resposta ao assassinato "vira uma página no conflito" entre os dois lados, sugerindo que a intenção não é escalar para um conflito maior. Israel, por sua vez, afirmou ter bombardeado preventivamente milhares de lançadores de foguetes do Hezbollah no sul do Líbano, evitando, segundo suas alegações, um ataque planejado pelo grupo.

Joseph Bahout, chefe do Instituto Issam Fares de Políticas Públicas e Assuntos Internacionais da Universidade Americana em Beirute, explicou que em conflitos dessa magnitude, "a verdade não importa". O que realmente define a narrativa são as percepções que cada parte escolhe adotar. "O Hezbollah considerou que obteve seus direitos, e Israel sabia que o grupo era capaz de atingir Tel Aviv com drones, independentemente de atingir ou não”, afirmou Bahout.

A escalada recente ocorre em um contexto de dez meses de intensificação das tensões, com trocas de tiros quase diárias na fronteira entre Líbano e Israel. Este período tem testado as "regras de engajamento" que mantiveram uma frágil estabilidade na região, levantando preocupações sobre até quando esse controle poderá ser mantido.

Para analistas, o confronto de domingo pode indicar que ambas as partes, apesar das demonstrações de força, ainda não desejam uma guerra total. As potências internacionais, como os Estados Unidos e o Irã, bem como os próprios envolvidos no conflito, parecem estar relutantes em permitir que a situação se deteriore a ponto de não haver retorno.

No entanto, a retórica de figuras como o secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, que ameaçou Israel após o assassinato de Shukr, e as ações militares de Israel, mostram que o equilíbrio é delicado. Enquanto as duas partes mantiverem essa postura de dissuasão mútua, o risco de um conflito maior continua latente.

Com a atenção voltada para alcançar um cessar-fogo em Gaza, considerado um primeiro passo crucial para evitar uma escalada maior, a situação no sul do Líbano permanece incerta. A verdadeira questão é se o frágil equilíbrio de poder será suficiente para evitar que essa "guerra de apoio", como é chamada pelo Hezbollah, se transforme em um conflito de dimensões muito maiores.

O que resta saber é até quando essa tensão contida pode ser mantida, e o que poderá desencadear o próximo grande conflito no já tumultuado cenário do Oriente Médio.

Fonte: Correio Braziliense