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Amazônia Atingida por Queimadas Recordes e Enfrenta Seca Histórica

Fogo destrói metade da floresta, agrava crise hídrica e leva população ao colapso respiratório
  • Categoria: Brasil
  • Publicação: 05/09/2024 09:58
  • Autor: Aline Gouveia, Jaqueline Fonseca

A Amazônia enfrenta seu pior cenário em anos, com queimadas intensas e secas históricas afetando diretamente a floresta e seus habitantes. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), mais de 50% dos focos de incêndio registrados no Brasil em 2024 se concentram no bioma amazônico. Estados como Pará, Mato Grosso e Amazonas são os mais atingidos, com a poluição causada pelas chamas se espalhando por várias regiões, chegando até o Distrito Federal e outras 15 unidades da federação.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), as mudanças climáticas têm intensificado a crise. A seca, considerada a pior dos últimos 40 anos na Amazônia, afeta rios importantes como o Solimões e o Madeira, que registram os menores níveis de sua história. Essa situação ameaça não apenas o ecossistema, mas também a economia regional e a saúde da população.

Poluição sufoca capitais amazônicas

As queimadas, amplamente usadas para desmatar, têm gerado um cenário crítico nas capitais amazônicas. Rio Branco (AC), Porto Velho (RO) e Manaus (AM) estão entre as cidades mais poluídas do país, segundo o índice IQAir. O ar tóxico tem levado milhares de pessoas a hospitais, com aumento significativo de doenças respiratórias.

Neidinha Suruí, ativista ambiental com mais de 40 anos dedicados à proteção da Amazônia, alerta que as queimadas são deliberadas e resultam de uma mentalidade ultrapassada de exploração territorial. “Vivemos uma emergência climática, e a ganância humana está destruindo não apenas a floresta, mas a saúde de todos nós”, afirmou Suruí.

Rios secos e impacto na economia

Além das queimadas, a seca extrema afeta os principais rios da Amazônia. O rio Solimões, em Tabatinga (AM), atingiu uma cota histórica de apenas 94 centímetros, enquanto o rio Madeira, em Porto Velho (RO), também está em níveis críticos. A navegação, essencial para o transporte de mantimentos e pessoas, foi suspensa em várias áreas, dificultando a vida das comunidades ribeirinhas.

Essa crise hídrica afeta diretamente o bolso dos brasileiros. Com a queda nos níveis de água nas principais hidrelétricas do país, o governo acionou as usinas térmicas para garantir o abastecimento energético, o que elevou as contas de luz. Pela primeira vez em três anos, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) adotou a bandeira vermelha patamar 2, o que representa um aumento de R$ 7,87 a cada 100 kWh consumidos.

Desmatamento e falta de ação política

Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, critica a falta de ação política para enfrentar a devastação ambiental. Ele ressalta que, apesar de alguns avanços no governo Lula, como a redução dos alertas de desmatamento e a reativação do Fundo Amazônia, ainda há muitas contradições. “A política ambiental é muitas vezes tratada como moeda de troca no Congresso, e não temos tempo para lidar com quem não acredita na emergência climática”, alerta Astrini.

Neidinha Suruí também aponta que, além das queimadas, o desmatamento acelera a destruição dos recursos hídricos da Amazônia, contribuindo para as secas extremas e enchentes descontroladas. Ela destaca que a proteção dos territórios indígenas é essencial para preservar o bioma, mas que ameaças como o Marco Temporal colocam em risco a sobrevivência da floresta e de seus povos.

Operações de fiscalização e esperança de mudança

A Polícia Federal tem intensificado operações contra crimes ambientais, como a recente ação em Guajará-Mirim (RO), na divisa com a Bolívia, que identificou suspeitos de atear fogo em uma reserva ambiental. No entanto, ativistas e especialistas afirmam que a fiscalização precisa ser constante e acompanhada de políticas públicas robustas que protejam a Amazônia e seus habitantes.

Com as queimadas descontroladas, a seca recorde e a poluição sufocando as populações locais, a Amazônia vive um momento crítico. A floresta precisa de atenção imediata para evitar um colapso irreversível que afetará não só o Brasil, mas todo o planeta. Como alerta Astrini: “Precisamos cuidar da Amazônia com carinho e muito respeito, e não sob a mira de uma motosserra.”

Fonte: Correio Braziliense