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Cerrado Sob Fogo: Bioma Enfrenta Crise Com Mais de 3,5 Mil Focos de Queimadas em 48 Horas

Especialistas alertam para ação criminosa e o impacto devastador na vegetação nativa e na saúde pública
  • Categoria: Brasil
  • Publicação: 12/09/2024 09:08
  • Autor: Maria Beatriz Giusti

O Cerrado, segundo maior bioma do Brasil, vive uma situação alarmante. Em apenas 48 horas, mais de 3,5 mil focos de queimadas foram registrados, representando 43,8% do total de incêndios no país. O bioma, que é o "coração das águas" do Brasil devido à grande quantidade de nascentes, está sofrendo com a seca prolongada e a devastação acelerada, agravada pela ação humana. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) confirmou que o Brasil lidera o ranking de queimadas na América do Sul, com mais de 8 mil focos registrados recentemente.

Incêndios Criminosos e o Futuro do Cerrado

De acordo com especialistas, como a professora de ecologia da UnB, Isabel Schmidt, as queimadas no Cerrado durante a estação seca não são naturais. “Queimadas entre maio e setembro são resultado da ação humana. Sem chuva, não há justificativa para os incêndios", explica. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reforçou que grande parte dessas ocorrências são criminosas, intensificando a degradação do bioma.

A situação é grave: o Cerrado perdeu 27% de sua vegetação nativa nos últimos 39 anos. Segundo dados do MapBiomas, 88 milhões de hectares já foram atingidos pelo fogo, e 9,5 milhões de hectares de vegetação nativa foram devastados.

Manejo Integrado do Fogo: Solução Subutilizada

Apesar da tragédia, há soluções conhecidas para minimizar o impacto das queimadas, como o Manejo Integrado do Fogo (MIF). Essa técnica consiste em realizar queimadas controladas em épocas de umidade para evitar grandes incêndios descontrolados. No entanto, Isabel Schmidt lamenta que essa prática seja aplicada principalmente em áreas de conservação, enquanto o Cerrado como um todo continua vulnerável.

La Niña e o Agravamento da Crise Climática

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) alerta que o fenômeno La Niña, que geralmente traz resfriamento, poderá atrasar ou nem ocorrer este ano. Isso significa que o aumento das temperaturas globais continuará, intensificando o cenário de queimadas. Mesmo com condições neutras, eventos climáticos extremos, como ondas de calor e chuvas intensas, têm se mantido frequentes.

Saúde Pública em Alerta

O impacto das queimadas não se limita ao meio ambiente. O Ministério da Saúde, liderado pela ministra Nísia Trindade, anunciou medidas de proteção à saúde da população diante da fumaça e da fuligem geradas pelos incêndios. A distribuição de água, pontos de hidratação e nebulização estão sendo implementados nas áreas mais afetadas. A ministra também alertou para o aumento de problemas cardiovasculares e respiratórios.

Com o aumento dos atendimentos médicos nas regiões mais afetadas, como Goiás e Mato Grosso, as queixas de tonturas e náuseas dispararam. O Distrito Federal e Tocantins registraram aumentos alarmantes de até 190% nas ocorrências.

Além disso, a saúde dos brigadistas florestais que estão na linha de frente no combate às queimadas também será monitorada de perto, dada a exposição contínua à fumaça e ao calor intenso.

A crise no Cerrado reflete não apenas a devastação de um bioma essencial, mas também a urgência de ações coordenadas para mitigar o impacto ambiental e proteger a saúde pública.

Fonte: Correio Braziliense