O Recife iniciou a fase de testes da Faixa Azul para Motos, autorizada pela Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran). A medida já levanta polêmicas entre especialistas em segurança viária e cicloativistas. Assim como ocorreu em São Paulo, o projeto tem sido alvo de críticas e elogios. A principal preocupação é que a faixa preferencial possa estimular o aumento do uso de motos, especialmente em uma cidade que lidera o número de acidentes envolvendo motociclistas.

Os testes, que começaram em 19 de setembro, serão realizados na Avenida Recife, um dos corredores viários mais importantes da cidade. A autorização permite que o trecho de 1,6 km nos dois sentidos da avenida seja utilizado como área experimental para a Faixa Azul por seis meses, com término previsto para março de 2025. A CTTU (Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife) ficará responsável por monitorar a eficácia da medida e enviar relatórios periódicos à Senatran.

Especialistas como Renato Campestrini, advogado especializado em trânsito, afirmam que, apesar de a faixa ter potencial para reduzir acidentes, há o risco de incentivar comportamentos perigosos, como o excesso de velocidade. "A Faixa Azul pode ser uma solução técnica, mas o que observamos em São Paulo é que, com o tempo, os motociclistas começaram a exceder os limites de velocidade, tornando a faixa menos segura", relata Campestrini.

Outro ponto de preocupação levantado é o impacto da motofaixa na viabilidade de outros projetos de segurança viária, como ciclovias e faixas exclusivas para ônibus. A Avenida Recife, por exemplo, deveria receber uma ciclovia segundo o Plano Diretor Cicloviário da cidade, o que agora pode ser inviabilizado pela criação da Faixa Azul, de acordo com Daniel Valença, coordenador da Ameciclo. "A motofaixa vai contra o Plano de Mobilidade Urbana, que visa desestimular o uso de veículos motorizados individuais. Priorizar motos em uma via tão perigosa é um erro", critica Valença.

Além disso, dados da CTTU mostram que 72% dos acidentes de trânsito no Recife envolvem motociclistas, o que reforça os receios de que a faixa possa aumentar a velocidade e o número de acidentes, em vez de solucioná-los.

A CTTU afirmou, em nota, que o projeto está sendo analisado em conformidade com as diretrizes do Contran e que novos detalhes sobre sua implantação serão divulgados em breve. Até lá, a cidade continuará acompanhando os desdobramentos dessa polêmica iniciativa.

Fonte: JC Online