O governo da Venezuela ordenou, nesta quarta-feira (30), o retorno imediato de seu embaixador em Brasília para Caracas, em resposta ao que chamou de "declarações intervencionistas e grosseiras" do governo brasileiro. O Ministério das Relações Exteriores venezuelano emitiu um comunicado condenando comentários feitos pelo assessor especial da Presidência, Celso Amorim, classificando-os como uma ameaça às relações diplomáticas entre os países.

A medida reflete o descontentamento do governo Maduro, que considera os comentários de Amorim, realizados em audiência na Câmara dos Deputados, uma interferência direta nos assuntos internos da Venezuela. Segundo o comunicado venezuelano, Amorim estaria "se comportando como um mensageiro do imperialismo norte-americano" ao emitir "juízos de valor sobre processos que são responsabilidade exclusiva dos venezuelanos e de suas instituições democráticas."

A recente tensão diplomática se intensificou após Amorim declarar que a Venezuela “não possui as condições ideais” para integrar o bloco BRICS, que recentemente expandiu seu número de membros. Amorim esclareceu que a exclusão não representa um veto brasileiro, mas sim uma decisão por consenso dos países-membros, com base na capacidade de representatividade e influência econômica. Segundo ele, a adesão ao bloco exige critérios estratégicos e, na visão do Brasil, "a Venezuela de hoje não preenche essas condições.”

Em meio a esses desentendimentos, fontes do Itamaraty indicam que há cautela sobre uma resposta oficial. A convocação de um embaixador, um gesto diplomático que demonstra insatisfação de um país com outro, é vista com preocupação no governo brasileiro, que, apesar das divergências com Caracas, busca manter um canal de diálogo aberto.

A escalada do conflito revela os desafios de manutenção de laços diplomáticos entre o Brasil e a Venezuela, enquanto ambos buscam equilibrar interesses nacionais e regionais, especialmente no contexto da expansão de blocos como o BRICS, onde o Brasil tenta fortalecer seu papel representativo na América Latina.

Fonte: Correio Braziliense