Promessa de deportações em massa de Trump enfrenta desafios legais e humanitários
Especialistas questionam viabilidade logística e impactos sociais do plano anunciado pelo presidente eleito.
- Categoria: Internacional
- Publicação: 07/11/2024 20:15
- Autor: Redação
Antes de ser eleito como próximo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump prometeu deportar em massa migrantes sem vistos válidos no país, uma proposta que gerou intensos debates durante sua campanha. Trump, que obteve vitória nas eleições de 5 de novembro, foi enfático em seu compromisso com a deportação de um milhão de pessoas em sua primeira fase, conforme apontou seu companheiro de chapa, JD Vance, em entrevista à ABC.
A ideia, que se tornou um dos pilares da campanha republicana sob o lema “Deportações em massa, já!”, esbarra em questões jurídicas e práticas. Especialistas alertam para o impacto social e humano dessa política, com famílias separadas e prejuízos às comunidades locais. Mais de 11 milhões de migrantes sem documentos vivem nos EUA, com 80% deles no país há mais de uma década, segundo dados do Departamento de Segurança Interna.
Legalmente, os migrantes têm direito a processos judiciais antes da deportação, o que implicaria uma sobrecarga ainda maior no já saturado sistema judicial de imigração. “Expandir drasticamente as deportações exigiria um aumento significativo no número de juízes e na estrutura do sistema, que já enfrenta atrasos crônicos”, explica Kathleen Bush-Joseph, do instituto Migration Policy.
Além disso, Trump enfrentará resistência de cidades que adotaram políticas de “santuário”, limitando a colaboração entre autoridades locais e agentes de Imigração e Alfândega (ICE). Autoridades de condados como Broward e Palm Beach, na Flórida, já declararam que não apoiarão as operações. Este fator representa um obstáculo crítico para o plano, que depende fortemente da cooperação das polícias locais.
Outro desafio reside na capacidade logística de realizar deportações em massa. Com apenas 20 mil agentes do ICE, Reichlin-Melnick, diretor de políticas do Conselho de Imigração dos EUA, destaca que alcançar as metas de Trump exigiria investimentos bilionários, além de novos centros de detenção e expansão de voos para repatriação. A cooperação diplomática com países destinatários dos deportados seria crucial.
Além dos custos logísticos, a execução de deportações em grande escala poderá ter consequências políticas e de imagem para Trump. “Ver comunidades inteiras sofrendo e famílias sendo separadas causaria grande comoção pública”, alerta Adam Isacson, do Escritório de Washington para a América Latina.
Historicamente, operações como a “Operação Wetback” dos anos 1950, que deportou 1,3 milhão de pessoas, enfrentaram oposição devido ao impacto humanitário e erros como a deportação de cidadãos americanos. Especialistas afirmam que as circunstâncias migratórias atuais são ainda mais complexas e não permitem comparações diretas com programas do passado.
Enquanto Trump se prepara para assumir o cargo em 2025, resta saber se suas propostas serão viáveis e quais os efeitos sobre milhões de vidas afetadas.
Fonte: Correio Braziliense